Existem tantos enredos quanto existem livros, mas a maioria deles podem ser classificados dentro de padrões. Conhecer os padrões ajuda o escritor a segui-los e também a quebrá-los.
James Scott Bell classificou os enredos nos seguintes:
A Busca
Em um dos tipos mais antigos de enredo, o herói entra em um mundo sombrio à procura de alguma coisa ou de alguém. Ele também pode estar atrás de autoconhecimento ou paz interior.
Rudimentos da Busca:
– O protagonista é alguém que é incompleto em seu mundo ordinário.
– A coisa buscada precisa ser de vital importância.
– Deve haver imensos obstáculos impedindo o protagonista de conseguir o que quer.
– A busca deve resulta no herói de tornando alguém diferente (geralmente melhor) no final.
Nesse tipo de história, costuma haver uma série de encontros ao longo do caminho, que geralmente acabam com um revés. Porém o herói sempre continua em direção ao que ele quer.
Esse tipo de enredo é poderoso porque representa nossa própria jornada de vida. Nós encontramos vários desafios, sofremos reveses e vitórias, mas continuamos.
Exemplo: O Apanhador no Campo de Centeio, de J. D. Salinger.
Vingança
Outro padrão de enredo muito antigo é a vingança. Desde os tempos tribais ele inspira os jovens: você mata um de meus irmãos, eu vou atrás de um dos de vocês. Vingança é altamente emocional, pois é um padrão visceral.
Rudimentos da Vingança:
– O protagonista precisa ser simpático, já que a vingança é geralmente algo violento.
– O mal que aconteceu ao protagonista geralmente não é culpa dele, ou se for, o mal é desproporcional ao erro.
– O desejo de vingança tem um efeito na vida interior do protagonista.
Essa estrutura costuma começar com o protagonista em sua vida confortável, que então sofre um violento distúrbio. O objetivo mais profundo do protagonista, em geral, é reestruturar a ordem, retomar o balanço.
As vezes o herói, ao final, irá executar sua vingança. Em outras ele pode desistir por um bem maior, como misericórdia. Nesse caso, o ideal é que ao sacrificar seu desejo de vingança, o herói ganhe algo de maior valor.
E sempre se esforce para fazer o antagonista alguém com suas razões para ter feito o que fez, e não simplesmente um vilão que faz o mal a toa.
Exemplo: O Conde de Monte Cristo, de Alexandre Dumas.
Amor
Você pode ter como protagonista apenas uma das partes do casal, que tem por objetivo conseguir o objeto do seu afeto, ou dividir a história entre ambos, que tem o objetivo de ficar juntos, mas há obstáculos.
Rudimentos do Amor
– Duas pessoas estão apaixonadas.
– Algo as separa.
– Eles podem conseguir ficar juntos ou não.
– Um, ou ambos os amantes crescem como resultado da história.
Uma variante muito comum desse padrão é os amantes se odiarem ao se conhecerem pela primeira vez.
Quando os amantes terminam juntos, a história dá esperança ao leitor. Quando acaba tragicamente, em geral ela deixa ao leitor a ideia de que, ainda assim, é melhor ter amado e perdido, do que nunca ter amado.
Exemplo: Romeu e Julieta, de William Shakespeare.
Aventura
Também um dos mais antigos enredos na literatura, vem do desejo do leitor, geralmente preso a uma vida monótona, de conhecer lugares e pessoas novas. Costuma inspirar e encorajar atos de exploração e descoberta. Difere da Busca, pois o objetivo aqui é a viagem em si, e não o final.
Rudimentos da Aventura
– O protagonista sai em uma jornada em busca de aventura, do que há “lá fora”.
– Há vários encontros ao longo do caminho, com diferentes personagens e circunstâncias.
– O protagonista geralmente tem algum tipo de compreensão depois da jornada.
Em geral esse tipo de história começa com a vida do protagonista, e mostrando que ele está insatisfeito com ela.
Um dos maiores desafios desse tipo de história é não permitir que o herói passe por episódios isolados e chegue ao final sendo o mesmo que era no começo. A mudança do personagem é crucial, seja por um novo entendimento d vida ou de si mesmo.
Exemplo: As Aventuras de Huckleberry Finn, de Mark Twain.
Perseguição
Quase todos têm sonhos de perseguição, por isso é muito fácil identificar o leitor com esse tipo de história. Em geral o sentimento ao final dessas histórias é de alívio, seja porque o protagonista escapou da oposição, ou porque o protagonista conseguiu capturar alguém que merecia.
Rudimentos da Perseguição
– Alguém tem que fugir por alguma razão forte.
– O perseguidor, que pode ser o protagonista ou o antagonista, precisa ter um forte dever ou uma obsessão de pegar a pessoa perseguida.
– Muitas vezes a perseguição é baseada em um grande mal entendido.
Exemplo: O Silêncio dos Inocentes, de Thomas Harris.
Um Contra
O tipo de história em que o protagonista precisa enfrentar grande oposição para manter aquilo em que acredita. Ele carrega um dever moral, e está sozinho (ou quase) em seu dever de mantê-lo.
Rudimentos do Um Contra:
– O protagonista tem um código moral.
– Há uma ameaça da comunidade sobre o protagonista.
– O protagonista ganha ao inspirar o resto da comunidade.
– O protagonista precisa se sacrificar de alguma forma.
Exemplo: Um Estranho no Ninho, de Ken Kesey.
Um Separado
Diferente do Um Contra que busca confronto, o Um Separado quer apenas ser deixado sozinho.
Rudimentos do Um Separado
– O protagonista é um anti-herói que não quer se associar com a comunidade, mas viver de acordo com seu próprio código pessoal.
– Algo acontece que arraste o protagonista para um grande conflito.
– O protagonista precisa decidir se toma parte do conflito ou não.
– Ao final ele pode retornar ao seu auto isolamento, ou decidir se tornar parte da sociedade.
Exemplo: Uma lição para não se esquecer, de Ken Kesey.
Poder
Nós somos fascinados por poder, mas a maioria de nós nunca terá muito dele durante a vida.
As histórias sobre poder costumam ser sobre ganhar poder e depois perde-lo, ou sobre o custo moral de se ganhá-lo.
Rudimento do Poder
– O protagonista geralmente começa em uma posição de fraqueza.
– Através de suas ambições o protagonista ganha forças e ascende.
– Há um custo moral no ganho de poder.
– Em muitos casos o protagonista pode experimentar a queda, ou sacrificar seu poder para recobrar sua moralidade.
Exemplo: O Poderoso Chefão, de Mario Puzo
Alegoria
Um tipo especial de história é a alegoria. Nela, os personagens e as situações representam alguma outra coisa. Ainda assim, não há um padrão de enredo para alegoria, ele deve seguir um dos padrões anteriormente citados (ou mesmo um diferente).
Exemplo: A Revolução dos Bichos, de George Orwell.
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